A ponta do lápis

Negro de carvão, risca a folha branca,
Gira e dá forma, preenche o vazio.
Traça, desenha, escreve, arranca,
Transforma a letra, de fio a pavio.

Na ponta do lápis, o receio do que pode passar para o lado de fora.
Na terapia do medo.

Saudade

Quilómetros de saudade, e meio mundo de distância não chegam para nos separar. Agora mais que nunca, vejo-te em todo o lado, sinto-te em sonhos, vejo-te nas ruas em que vagueiam os meus pensamentos, oiço-te nos risos e toco a tua voz ao som dos meus passos.
Sempre que me lembro de ti... um sorriso.

Acordo ressacado de nada,
Medicado contra tudo.
Anda tudo violentado pela doença que nos consome os dias.

Está quase,
A rotina está prestes a terminar.

Agarra-me de novo

Passo muito tempo sozinho e mal oiço a minha voz do lado de fora.
Sinto-me um inútil, um incapaz de resolver os meus dilemas, os meus terríveis dissabores.
Sentimentos obscuros, os mais sombrios, um buraco negro que trago dentro de mim, que me consome os pensamentos, que me enche de dúvidas e transforma tudo em frustração e medo.
A inglória de um presente que podia ser tão nosso, tão calmo, tão verdadeiro.

Poucos são os que me levam a sério quando digo que me sinto só, que tenho medo de sair, medo de fazer tudo errado de novo.
Já nem com o fumo de um cigarro posso contar. Acaba-se o vício, aumenta a ansiedade.

Preciso sempre mais de ti, não me sabes a pouco, reconheço o teu espaço, mas é no meu que eu me sinto tão perdido.

Paradoxo

Entre o nada que me rodeia e a multidao à minha volta, prefiro... estar só.

151

Está tudo podre durante a semana da rotina,
Em todo o lado encontro o buraco negro social da conversa fiada,
Que me enerva e ferve durante o sonambolismo da ida para casa.
Fala-se sobre o tempo, e sobre o tudo mais que não interessa para o fundamento,
Num diálogo vazio e fútil.
O autocarro vai cheio e eu quero sair.